quinta-feira, 27 de outubro de 2011

O dia em que Lilith dançou

Lilith me ensinou: a sensualidade subverte o sentido. E isso é bom.

 Adamah feita, não das costelas de um homem, mas da mesma terra que o moldou, filha ciente do mesmo espírito criativo  que imaginou Adão, Lilith já conhecia a misteriosa raiz da mandrágora e experimentara místicos deleites quando Eva ainda exalava um mal cheiro fetal. Nesta época, Lilith intuia também que no ventre da moréia havia  o primeiro embrião de sereia e que uma semente de tempestade podia gerar mais frutos belos que mil pedras adormecidas.

Sobre a poderosa Lilith, resta dizer ainda que foi vítima apenas dos esfoços - que sempre julgou um tanto rídiculos – de difamação de uma cultura que ainda viria, centrada no poder do macho-pai, um tanto preguiçosa e infantil, sedenta de narrativas apaziguadoras. Nas brincadeiras de saber desses homens (brincadeiras de velhos e não de crianças, as que podiam brincar mentes que careciam de energia e vitalidade ) , a deusa do corpo e da sexualidade virou o mal. Quando soube disso, Lilith apenas sorriu.

Bom, e o sentido?
Lilith contorceu seu corpo provocador de uma experiência de potência, animada por um sopro estelar.
...
Lilith apenas dançou

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Samba vadio

Num dia de vênus
ouvi o grito de prazer da passarada
com a carícia do vento
vi o estremecer da pedra
ao toque do sol 
e o perfume da violeta
embriagada com a seiva correndo em seu caule

Num dia de vênus
um cantar baixinho
me disse assim
que a vida é gozo e passagem
movimento incessante
pássaro, violeta e também pedra

Num dia de vênus
a Terra dançou um samba vadio
e me embalou.