sexta-feira, 7 de agosto de 2020

 Perder um amor no auge do amor... não é para ama-dor


Meu coração é caverna de paradoxo
- e paradoxo é sempre a encruzilhada que sorri
Ou a mãe de todo espanto.
Duas potências Supremas
de apetites titânicos:
Amor & Morte
Juntas. Irmãs em poder.
...sou sala (e)Spaçosa...

Crupiê-vida dá as cartas
Todo amor é benção que Morte não come
Já o Ás é sozinho e o Coringa enlaça o que parece que não se junta

Mas se o amor é excesso
Sem o amado o amor
Como é do seu feitio,
não cabe em si e se derrAMA
(E lambuza até a morte?)
Encharca a casa com ausência espessa
Misturando tudo como é de seu agrado
Até que juntinhos: A-mor e mor-TE –
AMOR_TEçam...
Uma paz-espaço-mãe
Ou até que A(r)te (a morte des-ate?)

Arde!
Perder um amor no auge do amor não é para ama-dor...
Porque amor não se perde
Todo amor é uma dança pro horizonte!

(Chama do amanhã...)

terça-feira, 28 de maio de 2019

Não sou uma mulher, sou continuação de águas
Escuras
Que escondem cidades antigas
Em festa profana
Ecos de uma gente
Que dança futuros.
Apenas irmã da palavra
Que brota trôpega
no espanto de ser.
Não sou uma mulher, apenas noite de chuva
Quando só se bebe vinho


Ardendo em paz.

quarta-feira, 24 de abril de 2019

BLASFÊMIA
Tire o seu silêncio do caminho, que eu quero passar com minha flor!
Somos a experiência das palavras que ousamos
Diálogos complexos, operações criativas entre várias matrizes de sentidos, rios caudalosos que abrem espaço ou água fresca para instigar novos fluxos
Há silêncios barulhentos e impositivos-incapacidade disfarçada de virtude, bloqueios anti-poéticos, sentenças de morte.
A palavra-corpo permite imanência (a escolha do prazer!)
O olhar sobre si mesmo só pode ser exercido por alguma linguagem que crie pontes ou... o peixe se perde na névoa!
A voz interior, se honesta, é simples e realiza o destino-de-voz: falar! O resto... talvez impotência (& prosa)
(Se o silêncio interior quer consciência, a consciência só é consciência ao entrelaçar pedaços de mundos - & todos os riscos - e dize-lo: uma interioridade viva, fala! A falta de interioridade...nada tem a dizer. Cala. E rompe laços – aquilo que acrescenta novas enzimas aos bons caldos).
E sim, falam-se palavras, ainda que doidas. Melhores se poéticas - as únicas palavras de fato originais e criadoras. Um caminho perigoso sim... (Não à transcendência!) Para que um dia sejamos belezas?
Palavra-mistério.
Falar como exercício de ser é se parir num mundo estético!

sábado, 8 de julho de 2017

Senhora Lua me fez transparência
Lago calmo, colo de unguentos
Me fez menina e anciã
Me sussurrou magias antigas
Flores abertas como um perdão
Me fez rodopiar, eu-cigana-vermelha
Me pôs num barquinho
Bem pequenina neste teu mar
Caminhei te seguindo
Alcançar o impossível é febre de artista
Cheguei numa ilha
Atravessei três séculos e abracei meu pai
Dancei com a morte
Chupei um picolé
E fiz tudo hoje
No breve espaço-ventre & poesia
Profundo vaso que guardo comigo
Onde cabe o mundo, onde cabe o mundo...
No tempo das águas e do senhor dos infernos
Cantei
Uma nova infância que - madura - desabrochou

domingo, 29 de novembro de 2015

Cada vez mais penso ( de maneira ousada, talvez como caiba ao pensamento) que a questão em torno do TEXTO DE TEATRO é menos se é "dramático" ou "pós dramático", mas que regime do imaginário ele constela...E quando o texto de teatro é visto rigorosamente como parceiro poroso de uma encenação, com fissuras abertas propositadamente para provocar outros parceiros de criação deste fenômeno coletivo que é o teatro, e não como obra em que faça qualquer sentido estar "estruturada" , trazendo a própria ideia de "obra fechada" que a palavra remete? Não um parceiro omisso, mas capaz, a partir de uma certa "realidade de alta condensação", como sugere Kantor, ser uma "carga que explode na encenação" ?(lógico que, para tanto, é necessário uma linguagem cênica e tempo de trabalho artesanal na encenação, como talvez hoje só companhias de pesquisa possam oferecer... ) Um gatilho da imaginação de atores e públicos ( e na escrita brasileira temos exemplos, como o próprio Grande Zé Celso e suas rubricas poéticas impulsionadoras de uma encenação imagética em "Cacilda". Um texto com rubricas "impossíveis de serem encenadas"?). Um texto menos lírico ( em sua sugestão de palavra autorreferente) e mais de fato, poético - entendendo-se a poesia, como Zumthor, como uma palavra com aptidão para gerar mais prazer do que informação. Se desde Aristóteles, de acordo com Pavis, o teatro esteve mais associado a uma concepção logocêntrica ao converter o texto no elemento primário da arte dramática, por que não ... subverter este texto? Se contaminássemos a palavra com sensualidade, instabilidade, abertura e sonho? Na minha pesquisa na Estelar de Teatro um texto mito-poético, inspirado na relação de Kantor com o texto, no teatro brasileiro do Zé e na antropofagia do Oswald, é investigado como gatilho para uma performatividade da palavra, em cena. E, voltando a questão do regime do imaginário constelado, Durand fala de dois regimes primordiais que orientam nossa imaginação: um regime diurno, de maneira hegemônica valorizado nos últimos milênios (ligado às ideias de ascensão, corte, lógica, razão, "estrutura" e desvalorização da alteridade) e um noturno (ligado à valorização do inconsciente, do sonho, do devaneio- é um assunto amplo e está na minha pesquisa do mestrado mais detalhadamente. Está indicado para publicação...).
Situo meus textos, de atitude ética e estética antropofágica, na busca da valorização de um regime suprimido pela maior parte de nossa educação e mecanismos de reconhecimento social (inclusive via editais e financiamentos públicos): o regime noturno. Neste sentido, busco uma voz feminina na dramaturgia, como provocação de um imaginário outro, em que os desassossegos possam estar menos estruturados em termos do logos ( ideias a serem debatidas) e mais em termos de valorização de uma outra política da percepção. Um texto - e uma proposta de um teatro implícita - em que a palavra e seu potencial poético e materialidade estimule uma relação co-criativa no público e nos atores e direção. Na Estelar de Teatro, música, dança, experimentos dos atores tecem a dramaturgia cênica nos espaços da palavra textual feminina e receptiva, na busca de um teatro mestiço.

sábado, 27 de junho de 2015

Invoco a palavra profeta
Que abre as portas de mundos criança
Chamo a palavra filha do raciocínio bastardo – a mãe do devir -
Que zombando de todo caminho
Dança elipses, cria frestas 
E penetra – o gozo dos pássaros!
Invoco a palavra magia,
Teia de cosmos absurdos,
Porque o dia nasceu e as tribos estão acordadas.
E como não sou só,
Lanço minha rede-palavra no mar
Para quem não tem mais tempo de temer a morte
E ouço cantos-asas
Barro & sopro de corpos mutantes & fortes
É meio dia e moramos nos trópicos!
E nossos tambores palavra mestiça
Roubam de embriões futuros
As sementes fogo que brotam em terra líquida
O mundo – ainda girando mais de 900 km por hora
E os abutres - ainda bicando nossos fígados
E ainda indiferença-penhascos!
Mas a palavra poesia de pés alados e ligeiros
Brasa do artista
Ainda chama
O impossível.
( trecho nova peça da Estelar de Teatro, já em processo)

sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Sobre as Estrelas...

O brilho das estrelas que vemos da Terra
É real, ao mesmo tempo em que apenas memória de uma luz que se foi
Assim, o mundo conhecido que molda o hábito do olhar
 Se revela o tempo todo em seu mais zombeteiro paradoxo
LUZ que não passa de SOMBRA de uma estrela
Iluminando o caminho daqueles que não tem energia para ver
( Os mesmo olhos que acreditam no real mais que na poesia...)
Hoje caminhei pelas ruas, ciente de que sonhava
Tão ligada a este mundo como o brilho de uma estrela que viveu em outro tempo
Mas ...surpresa: era  num instante estrela-reminiscência de um futuro
Sina de quem dá ouvido a canções de luzes absurdas , improváveis e insistentes
Canções de desassossego de um mundo impossível
Que na realidade-jogo da Terra
Chamamos de arte.