sábado, 29 de dezembro de 2012

Poeminha de amor no balanço do mar


Galho seco no telhado é passarinho. A poesia nos fatos?

Chove. E eu me trouxe você.

Você nos pingos – o céu na terra.

Eu nos teus braços de noite

E tudo ao contrário, eu dobra de ti – e salve oxalá menino! E salve as ciganas!

(A terra no céu?)

Você inteiro. Eu? Tudo inteiro! O mundo gira e o amor é inteiro. Eu só e inteira...e o amor que voa...

Um vinho, dois , o mar. Você no vinho. Poesia de mim.

Enquanto desenhas o porto

Te ensino a dançar como o mar

Ser festa no corpo, o celebrar...

Ai marinheiro

Sei engolir como as ondas

Irresistíveis e fêmeas pro fundo

Profundo

E no silêncio daquilo é

Existir no amor das sereias

No amor das arraias

E das tartarugas

 (e dos grãos de areia)

Te amar

até que você aprenda a dizer sim

Inteiro e abandonado

Como fogo que queima

Porque Deus quis assim

domingo, 7 de outubro de 2012

Sim, Breton, a beleza será convulsiva ou não será


Nas noites quentes sou cigana

danço nas bordas caóticas

o território da paixão e do deslumbramento

em que eu-bicho-ventania&exclamação, sou médium atravessada pelas coisas-seres dos mundos

E digo sim ... sina-mulher de abertura

E me recrio, eu-mais-que-eu fogo e água...

 

Nas noites quentes sou o gozo de santa Tereza e Juana Inês

(e rezo para que me livrem do eu-família, eu-vestido-de-instituição, torre-pai fechada )

Sou mais pro lobo e matilha

Subverto a razão e vivo num mundo estético

o amor de Frida Kahlo & o Abaporu.

 

Nas noites quentes sou a loucura do feminino

e sua dimensão criadora

calor e só

Fruta, fruto & paz.


“Há quem diga que todas as noites são de sonhos. Mas há também quem garanta que nem todas, só as de verão. No fundo, isto não tem muita importância. O que interessa mesmo não é a noite em si, são os sonhos. Sonhos que o homem sonha sempre, em todos os lugares, em todas as épocas do ano, dormindo ou acordado.”
(Shakespeare)

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Giro de Exu



 


A voz do tempo, misteriosa e precisa
Mandou que eu construísse minha casa na fronteira dos mundos
E que cantasse para embalar a angústia da travessia.
Um quarto estreito e a cama de um desvario
Fome de poeta é parir o silêncio...

Entre um jardim para lançar as sementes
E o desejo de comer todos os frutos, violar as leis e amar o horizonte
Nascem as flores azuis das águas das chuvas
e os espaço
s de um novo mundo, de outros sentidos.
Terra vagabunda e sem compromisso
Para se saudar o vôo descabido dos pássaros.

E ainda é primavera...e a lua é cheia...
tempo de contaminação -a coragem de afetar e ser afetado
De usar o giro Exu mensageiro entre o material e o volátil
prá vestir minha roupa de xamã-mulher
atravessar dimensões paralelas E voltar E contar estórias

Na imagem-manhã  intuída, um novo cosmos
Em que se pode ser mar, carneiro, água, um rio na África, seios fartos e Iemanjá
A exuberância do vinho & o sacrifício da uva
O mistério-beleza de ser a folha e ser o santo!



 

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

cena Caim-Lilith da peça Caim

Lilith - E enlouquecida de raiva, deixei aquele paraíso prá lá de sem graça e sumi do mapa. Naquela época , o mundo conhecido terminava ali, no final do jardim de casa. Humilhada...mas antes a solidão de um mundo vazio a me submeter àquele arrogante Adão-solar ! Eu Lua - arcaica e primitiva!
Coro de mulheres –E qual das mulheres aqui já não se sentiu abandonada? Forçada ao deserto e à companhia de demônios? Na jornada de um homem,  mochila nas costas e espada erguida, em busca de suas aventuras heróicas. Já nossa jornada tem sempre a supresa de sermos lançadas no caos. Ainda quando somos nós que caminhamos seguras para ele e de olhos bem abertos.
Lilith - E no meio desse deserto da cor do sangue, encontrei e me uni a mais de mil demônios, que fizeram da minha vida de mulher uma alegria insana e letal. A cada prazer, uma vingança contra aquele Adão mesquinho e tosco. A cada prazer, um pouquinho mais de veneno. E em troca, recebia o poder dos demônios, gerava seus filhos e filhas. Mas mesmo essa vida, que no começo me trazia tanta excitação, começava a ficar chata. No fundo, mil demônios não passam do mesmo. Como toda a tristeza, no fundo, é a mesma...
Caim - E foi aí que eu cheguei!
Lilith -Eu sabia que você viria...
Caim -?
Lilith -Hoje eu tive um sonho, de uva.
Caim -Uva?
Lilith -Não das verdinhas, não... mas daquelas roxas, pequenininhas e bem doces. Sabe aquela fruta madura, madura, em que uma gotinha de mel já rompeu a casca e se mostra assim, sem vergonha nenhuma, prá quem quiser ver?
Caim -Sei...
Lilith -Foi assim meu sonho... eu era uva, o vinho e aquele que bebe. E também a videira, em plena expectiva, visão de cálices vermelhos, de êxtase e dor, do mistério da entrega. Na carne,  o sofrimento da uva pisoteada, que se dá aos pés e pesos que a machucam e ali agoniza, sangra. E na ação do tempo, o álcool, pai da eterna juventude, elixir dos deuses ...Brota.
Ai, brotinho de uva...
Caim -Ai...
Lilith - Você sabe o que isso significa? Eu não sei e foi comigo!
Caim -Eu te amo!
E aquilo que eu nem sabia existir, pulou da minha boca, prontinho. E mais um monte de coisas que eu nem sabia foram-se fazendo pelas minhas mãos, boca, língua e pele. O resto, ela mostrava. Lição aprendida diretamente dos demônios: cada carícia, cada som de amor que esquentava o desejo, cada ...ai, ai,ai,ai, ai!
Só de lembrar dessa que para mim era todas mulheres do mundo em uma só  ...
Lilith- O bem e o mal ao mesmo tempo...
Caim – Em um deus?
Lilith- E demônio. E homem e mulher inteiramente.
Caim - Lilith me ensinou tanto e tanto...
A correr com as bestas selvagens e a saltar as estrelas
Lilith – E eu abri minha caixa de milagres para ele e fiz uma cama de ervas, venenos e cipós para alcançarmos os querubins
Caim- E mergulhávamos juntos no caos anterior ao nome das coisas, época em que ela nasceu..
Lilith- Em cada gozo febril que alimentava meu corpo arcaico de fêmea noturna!
Lilith – Eu sou a primeira transgressora do mundo!
Caim – E por quê?
Lilith – Pela mais pura obediência ao meu destino. Que nunca me pertenceu...mas a Ele. Como parte do plano Dele. Pelo mais puro amor... à Deus!
Caim - Eram essas as idéias estranhas que ela plantava no meu coração ainda jovem...
Ah, só de lembrar dessa que para mim era todas mulheres do mundo em uma só  ...
Lilith -Então por que me deixou?

sábado, 25 de fevereiro de 2012

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Dia de Nanã

Mergulhou
Águas profundas de uma tristeza antiga
Se entregou, sem resistência, ao
 pranto das velhas pedras do mesmo magro caminho
Sentiu odores de corpos paralisados por  couraças
O insípido gosto das mãos silenciosas porque já não sabem mais responder à vida
...
 a pobreza.

E numa manhã de carnaval brotou,
sem se fazer avisar,
Da lama do coração,
Uma flor de paz