domingo, 3 de abril de 2011

Compartilhando trecho aleatório da nova peça, ainda sem título



Lilith -Eu sabia que você viria...
Nio -?
Lilith -Hoje eu tive um sonho, de uva.
Nio -Uva?
Lilith -Não das verdinhas, não... mas daquelas roxas, pequenininhas e bem doces. Sabe aquela fruta madura, madura, em que uma gotinha de mel já rompeu a casca e se mostra assim, sem vergonha nenhuma, prá quem quiser ver?
Nio -Sei...
Lilith -Foi assim meu sonho... eu era uva, o vinho e aquele que bebe. E também a videira, em plena expectiva, visão de cálices vermelhos, de êxtase e dor, do mistério da entrega. Na carne,  o sofrimento da uva pisoteada, que se dá aos pés e pesos que a machucam e ali agoniza, sangra. E na ação do tempo, o álcool, pai da eterna juventude, elixir dos deuses ...Brota.
Ai, brotinho de uva...
Nio -Ai...
Lilith - Você sabe o que isso significa? Eu não sei e foi comigo!
Nio -Eu te amo!
E aquilo que eu nem sabia existir, pulou da minha boca, prontinho. E mais um monte de coisas que eu nem sabia foram-se fazendo pelas minhas mãos, boca, língua e pele. O resto, ela mostrava. Lição aprendida diretamente dos demônios: cada carícia, cada som de amor que esquentava o desejo, cada ...ai, ai,ai,ai, ai!
Só de lembrar dessa que para mim era todas mulheres do mundo em uma só  ...
Lilith- Então por que me deixou?
Os dois se olham. Silêncio. Lilith se vai.

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